"Jamais esquecerei a sábia resposta desferida pelo meu
pai ao
ser questionado e chamado de louco por ter deixado o filho
de quinze
anos fazer a primeira tatuagem. Sem pestanejar meu herói
disse:
'Eu deixei, pois todos têm o direito de se arrepender' e
aquilo soou como
um tapa estalado na cara besuntada de bronzeador daquela
mulher
que perguntou aquilo, pois provavelmente criava os filhos em
aquários
e nunca teria coragem de deixá-los arriscar nem mesmo dez
passos
para fora da sala de estar. Isso aconteceu há
aproximadamente onze
anos e hoje, apesar de eu ter ironicamente me arrependido
por ter perpetuado
aquela águia nas costas que hoje mais parece uma pomba
anoréxica,
recuso-me a contentar-me com a sensação de dúvida diante
daquilo
que eu poderia ter feito e por medo deixei de fazer."
(Ricardo Coiro)