O que seria preferível, que a pessoa que você ama passasse
a lhe odiar, ou que lhe fosse totalmente indiferente? Que
perdesse o sono imaginando maneiras de fazer você
se dar mal ou que dormisse feito um anjo a noite inteira,
esquecido por completo da sua existência? O ódio é
também uma maneira de se estar com alguém. Já a indiferença
não aceita declarações ou reclamações: seu nome não
consta mais do cadastro. Para odiar alguém, precisamos
de um coração, ainda que frio, e raciocínio, ainda que doente.
Para odiar alguém gastamos energia, neurônios e tempo.
Odiar nos dá fios brancos no cabelo, rugas pela face e
angústia no peito. Já para sermos indiferentes a alguém, precisamos
do quê? De coisa alguma. A pessoa em questão pode saltar de
bung-jump, assistir aula de fraque, ganhar um Oscar ou uma
prisão perpétua, estamos nem aí. Não julgamos seus atos,
não observamos seus modos, não testemunhamos sua existência.
(Martha Medeiros)